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Os sete ministros do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) vão se reunir nesta terça-feira, a
partir das 19h, para julgar o maior caso de sua história. São 7.942 páginas,
divididas em 27 volumes, que trazem provas documentais, depoimentos, argumentos
da acusação, defesa e Ministério Público sobre a suspeita de que a chapa
formada por Dilma
Rousseff (PT) e Michel
Temer(PMDB) cometeu abuso de poder político e econômico para
vencer as eleições de 2014.
Em meio ao terremoto político causado pelas delações
premiadas de executivos da JBS, os ministros vão decidir se há
indícios suficientes para cassar o atual presidente e tornar inelegível a
ex-presidente.
Fruto de quatro ações ajuizadas pelo diretório
nacional do PSDB e
pela coligação Muda Brasil, entre outubro de 2014 e janeiro de 2015, o
processo já passou pelas mãos de três ministros — João Otávio de Noronha, Maria
Thereza de Assis Moura e Herman
Benjamin, o atual relator, que deu celeridade e volume de provas à
ação.
Com autorização do ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Edson
Fachin, relator da Operação
Lava Jato, Benjamin percorreu o país para colher pessoalmente o
depoimento dos delatores da Odebrecht, entre eles os de Marcelo,
ex-presidente, e Emílio Odebrecht, que deram declarações contundentes sobre
como o dinheiro sujo abasteceu a campanha de 2014. O relator foi o grande
responsável pelos números superlativos do caso, que, além das quase 8.000
páginas, teve 199 despachos, 58 depoimentos de mais de 75 horas e 380
documentos anexados, entre requerimentos, manifestações, ofícios, mídias,
mandados e certidões. Benjamin já tem data para sair da Corte, 27 de
outubro — por isso, busca finalizá-lo até lá.
O fator JBS
Até a revelação dos depoimentos dos delatores à
Procuradoria-Geral da República e das gravações de uma conversa entre o dono da
JBS, Joesley
Batista, e Michel Temer, a tese que circulava com mais força em
Brasília era a de que o peemedebista escaparia da cassação pela Corte
eleitoral. Diante das delações explosivas, que levaram à abertura de um
inquérito contra o presidente no STF e levantaram as hipóteses de renúncia,
afastamento ou impeachment dele, a derrubada de Temer do poder pelos votos dos
ministros do TSE é vista como uma saída honrosa ao mandatário.
Sem fatos novos que aprofundassem a crise política às vésperas do início
do julgamento, contudo, auxiliares palacianos aventam a possibilidade de que um
pedido de vista no plenário do TSE possa dar sobrevida ao presidente no cargo.
Partidos da base aliada, como o PSDB, principal fiador político do Planalto e,
ironicamente, autor da ação a ser julgada, aguardam a decisão do tribunal para
decidir se abandonam o barco governista.
Conforme VEJA publicou nesta semana, mesmo enfraquecido, Michel Temer
ainda conta no TSE com ministros dispostos a defendê-lo, que buscam pretextos
para protelar a decisão final e só aceitam cassar seu mandato depois de
estabelecidas regras claras para a escolha do sucessor – coisa que ainda não
existe. Há dúvidas até sobre quem estaria habilitado a disputar uma eventual
eleição indireta e, sobretudo, falta um nome para suceder-lhe.
Entenda o rito do
julgamento
O TSE montou um esquema especial para o julgamento.
O presidente do tribunal, ministro Gilmar
Mendes, determinou que fossem convocadas quatro sessões plenárias —
duas extraordinárias e duas ordinárias — que serão transmitidas ao vivo pela TV
Justiça. Nos dias 6 e 7 de junho, as sessões serão às 19h. No dia 8,
quinta-feira, haverá duas sessões: uma às 9h e outra às 19h.
Na próxima terça-feira, às 19h, o ministro relator, Herman Benjamin,
também corregedor-geral da Corte, dará início ao julgamento, lendo um resumo da
ação e deliberando sobre algumas questões preliminares, como o pedido de
maior prazo feito pela defesa dos acusados. Na sequência, os advogados da
acusação, ou seja, o PSDB, autor da ação, farão a sua explanação; seguidos
pelos defensores de Dilma, de Temer e dos seus respectivos partidos, PT e PMDB,
e pelo representante do Ministério Público Eleitoral (MPE). Conforme o
regimento do TSE, cada um terá no máximo quinze minutos para falar.
Os argumentos de todas as partes envolvidas já são conhecidos. O PSDB
pede que Temer seja isentado “de qualquer prática ilícita” e que Dilma seja
considerada inelegível por haver “provas cabais” contra ela. Os advogados do
presidente defendem a tese de que as condutas sejam separadas, enquanto os de
Dilma são contra a cisão — os dois negam as acusações. Com base nos depoimentos
dos delatores da Odebrecht, o Ministério Público Eleitoral, por sua vez, vê o
envolvimento direto de Dilma no esquema e de menor grau por parte de Temer, mas
é a favor da cassação dos dois por considerar inviável a divisão da chapa.
Só depois de as partes se manifestarem, Benjamin pronunciará o seu voto,
o que não deve ser feito em poucas horas, já que o seu relatório tem 1.032
páginas. Na sequência, pronunciam-se os ministros Napoleão Nunes Maia,
Admar Gonzaga, Tarcisio Vieira de Carvalho, o vice-presidente do TSE, ministro
Luiz Fux, a ministra Rosa Weber e, por último, Gilmar Mendes.
Representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no TSE, Gonzaga e
Vieira foram indicados por Temer e nomeados ministros da Corte eleitoral nos
últimos dois meses para as vagas deixadas, respectivamente por Henrique Neves e
Luciana Lóssio.
Revista Veja (Site)
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