Eder Moraes lucrou muito tanto com verdades quanto com mentiras e, na base da chantagem, ainda levou ao forno numa bandeja a cabeça do primeiro chefe no Palácio Paiaguás, Blairo Maggi e, depois, o segundo chefe, o também ex-governador Silval Barbosa. As revelações que vieram à tona nesta sexta pelo Jornal Nacional (TV Globo), que teve acesso exclusivo ao conteúdo da delação de Silval no Supremo, são de assustar. Desgraçou com a vida do senador licenciado e ministro da Agricultura. Sobre Silval, foi mais um esquema de corrupção confirmado pelo próprio ex-governador, que administrou o Estado de 2010 a 2014.
Com o cerco se fechando, alvo de busca e apreensão e ainda com passagem pela cadeia, Eder sentiu-se abandonado pelos ex-chefes, de cujos governos foi secretário e praticou muitas traquinagens. Calculista e chantagista, mediu os passos que daria dali para frente. Quis fazer do limão uma limonada.
Primeiro, denunciou Blairo e Silval. Preterido na escolha para uma cadeira de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Eder procurou o Ministério Público Estadual e afirmou que ambos sabiam do esquema de compra de vaga no TCE. Foi um recado do que seria capaz. Queria que Silval e Blairo entendessem que poderia se tornar um homem-bomba. Depois, foi atrás dos dois e pediu R$ 12 milhões para desmentir o que havia dito. Recebeu contraposta, com desconto de 50%. Topou.
Eder teve a cara de pau de, não só procurar órgãos fiscalizadores para afirmar que não era aquilo que havia dito, como chamou a imprensa para, em entrevistas em outubro de 2014, dizer que estava tomado pela emoção por não ter sido atendido na escolha para ocupar vaga de conselheiro do TCE e, por isso, acabou falando "besteiras".
Segundo revela o próprio Silval na delação, ele e Blairo negociaram com Eder para haver retratação. Após a mentira pública, o ex-secretário esperou pela recompensa. Em troca, embolsou R$ 6 milhões, arrancando R$ 3 milhões de cada. No caso de Blairo, pagou-se em dinheiro vivo. A “montanha” foi levada na casa de Eder pelo empresário Gustavo Capilé. Silval confessou que pagou parte em dinheiro, entregue ao ex-secretário por Sílvio Correa, e ainda quitou uma dívida de R$ 800 mil de Eder.
As revelações de Silval são bombásticas. Em outros trechos, ele também joga na lama o nome do deputado federal e presidente do PMDB-MT Carlos Bezerra, a quem aponta como recebedor de R$ 4 milhões para dar apoio político a um candidato à Prefeitura de Cuiabá, e também o hoje senador Wellington Fagundes, que teria faturado alto com propina de construtoras que fizeram obras de pavimentação. Wellington tinha no comando da secretaria de Infraestrutura o afilhado político Cinésio Oliveira. Silval ainda diz que, por fora, quitou dívidas de campanha de Wellington.
Por causa da retratação mentirosa de Eder, o MPF pediu arquivamento da denúncia contra Blairo, o que foi homologado pelo Supremo em maio do ano passado. Agora, as investigações devem ser reabertas. Silval já está morto político-socialmente. Blairo passa a conviver com a navalha no pescoço.
Romilson Dourado/ RD News
Nenhum comentário:
Postar um comentário